A organização de nosso ensino escolar busca considerar as necessidades das fases de desenvolvimento da criança, procurando estruturar cada etapa da educação para atender ao que a fase correspondente exige e permite. 

Na etapa da Educação Infantil as crianças vivenciam os períodos sensório-motor e pré-operatório, de acordo com Piaget. Durante o Ensino Fundamental, elas passam pelos períodos operatório concreto, nas séries iniciais, e operatório abstrato, nas séries finais. Já no Ensino Médio são aprofundados os conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, buscando articular o conteúdo com a preparação básica para o trabalho e a cidadania. Dessa forma, a educação básica se estrutura de modo a promover experiências que potencializam o desenvolvimento das funções e características pertinentes a cada fase. 

Dos 0 aos 2 anos, aproximadamente, a criança vivencia o período sensório motor. Nesta fase ocorre a exploração do mundo através dos sentidos. As ações do bebê geralmente não são intencionais e a aprendizagem ocorre pela percepção das consequências de suas ações. Considerando tais características, o ambiente educativo precisa promover a exploração de diferentes materiais e a estimulação adequada dos sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar,…). O educador deve contar com um espaço que permita essa diversidade de experiências de forma segura e, observando as ações da criança frente aos estímulos oferecidos, deve ir significando o mundo que ela vai descobrindo. Para esta faixa etária, então, as escolas trabalham com espaços mais livres e a estimulação se dá pela ação, manipulação e experimentação da própria criança, sendo o papel do adulto acompanhar e ajudá-la a construir sentido para suas experiências.

O período pré-operatório compreende a faixa etária dos 2 aos 7 anos, aproximadamente. É aí que aparece mais claramente a função simbólica (o “faz de conta”) e as noções de espaço e tempo se desenvolvem. O egocentrismo se faz muito presente, sendo que a criança percebe apenas seu próprio ponto de vista, não conseguindo considerar modos de pensar e sentir diferentes dos seus. O pensamento da criança nesta fase é mais intuitivo do que lógico. Há dependência da experiência concreta para a compreensão dos fenômenos, ou seja, a criança ainda precisa ver, testar, manipular para conseguir compreender. A fantasia e a capacidade criativa estão a todo vapor. Por essa razão, a Educação Infantil representa a fase ideal para se promover a imaginação, a criatividade, a exploração do mundo orientada pelo adulto. Além disso, a socialização tem especial importância, pois é na vivência das interações com os pares que os pequenos exercitam e desenvolvem gradativamente as habilidades sociais, principalmente a capacidade de considerar os pensamentos e sentimentos do outro. 

O espaço físico da escola de Educação Infantil precisa, então, permitir maiores possibilidades de exploração e circulação. A organização do tempo e do espaço deve privilegiar a vivência do brincar e da socialização. Faz-se necessário promover a aprendizagem a partir da experiência concreta das crianças, favorecendo a compreensão e a construção de relações entre os conhecimentos adquiridos. Deve-se considerar o tempo mais curto de concentração das crianças, havendo maior rotatividade de estímulos para que não haja perda de motivação. 

Será a partir dos 7 anos, aproximadamente, que a criança passará ao período operatório concreto. Nesta fase, já se pode esperar maior controle sobre a atenção, conforme exposto no texto anterior, além de se passar gradativamente a um pensamento mais lógico e menos influenciado pela fantasia. O Ensino Fundamental assume, então, a função de oferecer uma dinâmica de trabalho mais controlada, com intensificação de atividades mais dirigidas, que exigem maior concentração. A abordagem torna-se menos livre em relação à arte e à brincadeira e o sistema avaliativo se torna mais formal, centrado em objetivos pré estabelecidos para cada série. 

Considerando todas essas informações, fica muito claro que a principal função da Educação Infantil não é servir como preparação para o Ensino Fundamental, pois cada uma destas fases possui suas especificidades e precisa contemplar objetivos diferenciados. Sabemos que, no mundo contemporâneo, não basta atingirmos um raciocínio lógico bem desenvolvido. Precisamos igualmente de boas habilidades sociais, de criatividade e flexibilidade de pensamento para enfrentarmos os desafios cotidianos, seja qual for a área acadêmica e profissional que escolhemos seguir. Assim, vivendo a fase da Educação Infantil em sua plenitude, usufruindo das possibilidades que somente ela consegue bem enfatizar, nossas crianças poderão atingir este desenvolvimento mais amplo e integrado. 

Por isso, queridas famílias, tenhamos o cuidado de não colocarmos a aprendizagem da leitura, escrita e cálculo como preponderantes sobre as capacidades criativas, motoras, emocionais e sociais. Tenhamos especial atenção para que nossos filhos não sejam apressados a atingirem objetivos pertinentes ao Ensino Fundamental, em detrimento de competências não menos importantes, que encontram especial espaço e valorização agora, na linda e essencial fase da Educação Infantil! 

 

Alessandra Janz Cheron (Psicóloga Escolar)

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